Morreu Daviz Simango, edil da Beira e líder do MDM

Morreu Daviz Simango, edil da Beira e líder do MDM

Edil da Beira estava em tratamento na África do Sul, mas seu estado de saúde teve complicações. Lideranças do MDM na Beira convocaram conferência de imprensa para prestar mais esclarecimentos sobre a morte de Simango.

O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, morreu esta segunda-feira (22.02), na África do Sul. A informação foi confirmada por correligionários do MDM na Beira.


A saúde do edil da cidade da Beira teve complicações no sábado (13.02), quando foi transferido de helicóptero para tratamento no país vizinho.

Na semana passada, fontes do MDM divulgaram que o estado de saúde de Simango evoluía bem, sendo esperada alta médica "a qualquer momento". No entanto, na manhã desta segunda-feira, o líder do MDM acabou por não resistir.

O MDM pretende prestar esclarecimentos sobre a morte de Daviz Simango em conferência de imprensa, na Beira, na tarde desta segunda-feira.

José Domingos, secretário-geral do MDM, já se pronunciou, classificando Simango como "um pai exemplar" para Moçambique. "Daviz Simango não foi apenas pai para o MDM", do qual foi fundador, "foi um pai exemplar para Moçambique inteiro", referiu, em declarações à agência de notícias Lusa.

A terceira força partidária do Parlamento moçambicano é a sua obra marcante, considerou. "Ele criou um partido e em pouco tempo conseguiu quebrar essa barreira" do bipartidarismo. 


O primeiro independente a chegar a autarca 


O edil da Beira fica na história como o primeiro candidato independente a chegar à presidência de um município no país. Daviz Simango foi eleito autarca da Beira, centro de Moçambique, primeiro em 2003 como candidato da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, ao qual se juntou a convite do falecido líder da organização, Afonso Dhlakama.

No entanto, em 2008, a curta carreira política de Daviz Simango parecia ter acabado, quando Afonso Dhlakama recuou na decisão de o recandidatar à presidência do município da Beira, optando por Manuel Pereira, um influente deputado da RENAMO.  Confrontado com a mudança de posição do líder da RENAMO, Daviz Simango tomou a decisão ousada de avançar como independente, vencendo com larga margem a presidência de uma das principais cidades moçambicanas, à frente dos candidatos da RENAMO e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.  

Em 2009, Daviz Simango fundou o MDM, com o qual concorreu às presidenciais e legislativas desse ano. Ficou em terceiro lugar nas presidenciais e conseguiu eleger oito deputados à Assembleia da República (AR), acabando com a bipolarização entre a FRELIMO e a RENAMO - a que o MDM se referia como "coligação Frenamo" -, no Parlamento.  

Daviz Simango voltou a concorrer às eleições gerais de 2014 e 2018, renovando o terceiro lugar e, com o seu partido, elegendo deputados. 

Ao nível do poder autárquico, voltou a vencer no município da Beira em 2013 e 2017, tornando-se o autarca com mais anos na presidência de um município em Moçambique. 


Engenheiro, político, pastor

Licenciado em Engenharia Civil pela Universidade Eduardo Mondlane, o líder do MDM nasceu na política. Tanto o pai, Uria Simango, como a mãe, Celina Muchanga, foram destacados dirigentes da FRELIMO e ambos terão sido executados em campos de reeducação do partido, sob acusações de traição. 

"A história moçambicana é contada de acordo com os interesses de três, quatro ou cinco pessoas" e, portanto, "é uma mentira", criticou, em entrevista à DW África, defendendo a criação de uma comissão de verdade, seguindo o modelo adotado pela África do Sul depois do 'apartheid', para investigar "sem reservas"
os períodos da luta de libertação nacional e da guerra civil. 

Mas o ADN de Simango não era feito de política, incluía também profundas convicções religiosas de origem protestante. Era casado com a filha de um pastor e o seu pai, além de vice-presidente da FRELIMO, foi também reverendo da Igreja de Cristo Unida.  

"Ando sempre com a Bíblia na minha pasta e, quando tenho tempo livre, procuro ler alguns versículos e participo em grupos de orações", disse, numa entrevista à Lusa. 

É como uma "missão" que Simango encarava a política. "Muitas vezes pergunta-se como se chega a político. Não sei, se calhar é o destino que Deus nos atribui. Cada um de nós, na Terra, tem uma missão e eu tenho a minha", assumiu. 

Além dos pais, os "líderes tolerantes", como Martin Luther King Jr., eram a sua referência.  "No meu país, ainda falta essa arte [do perdão]", lamentou, assinalando: "Temos famílias, em Moçambique, que não se cumprimentam, porque uma é do partido no poder e outra do partido na oposição, e isso é extremamente mau."  

Fonte: DW

(Artigo em atualização)

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